Dicas para compreender melhor o seu gato




Comunicação vocal

A comunicação vocal pode transmitir mensagens gerais. Servem para afastar outros gatos do seu território, atrair fêmeas em cio, ou ainda como chamamento das crias para a mãe e vice-versa. No entanto, o convívio com os humanos levou a que os gatos passassem a utilizar este recurso para comunicarem também com os tutores, uma vez que compreenderam que quando o faziam algo de positivo acontecia, como disponibilização de alimento, afagos, permissão para a aceder a locais fechados, etc… Alguns destes sons são produzidos com a boca fechada e outros com a boca aberta.


O “ronronar” é um dos sons produzidos com a boca fechada. É perceptível a partir dos dois dias de idade. Nos primeiros tempos é composto por uma única sílaba, que se vai desdobrando em várias, à medida que o gatinho cresce. A mãe ronrona quando se aproxima dos filhotes, para os alimentar e estes, na sua presença, só deixam de ronronar quando estão a mamar ou quando dormem. O gato adulto pode ronronar em quase todas as situações, inclusivamente em caso de sofrimento, angustia ou até morte. O ato de emitir tais sons liberta endorfinas, que nestas situações críticas, podem devolver ao animal alguma sensação de conforto. Mas no geral este tipo de vocalização está associado a manifestações de prazer. Antropomorfizando um pouco, pode ser comparado ao sorriso humano. Assim como as pessoas sorriem quando estão felizes ou desejam alguma coisa, os gatos também tendem a ronronar nessas situações.


O “rosnar” é um sinal de aviso e ocorre durante uma exalação lenta e constante. É uma das formas de comunicação vocal, em que o som é emitido de boca aberta e expressa um estado emocional intenso. O principal objectivo será o de afastar um perigo ou uma ameaça. Os gatinhos jovens podem emitir este ruído, sobretudo em disputas alimentares com os irmãos. Os gatos adultos utilizam este recurso para intimidar potenciais agressores ou invasores de território. Pretende impor uma distância de segurança entre ambas as partes. Podem fazê-lo também com os humanos, exactamente com os mesmos objectivos.


O “bufar” pretende sobretudo surpreender o inimigo. O gato utiliza este tipo de comunicação para afastar potenciais ameaças e é normalmente acompanhada de posturas corporais de evitação. No contexto familiar pode ocorrer em situações em que o animal quer terminar por ali o contacto físico, no caso de dor ou desconforto súbito ou na presença de algum humanos ou animal que o intimide. Se lhe for permitido, seguir-se-á a fuga para um local seguro. Se o animal recorrer ao “rosnar” ou ao “bufar”, a melhor atitude do seu tutor será a de evitar o conflito, para sua própria segurança. Permita ao gato refugiar-se e depois, calmamente espere que este venha ao seu encontro. Não lute com um gato em qualquer um destes estados emocionais. Ambas as partes sairão a perder. O animal só ataca se a isso for obrigado, porque na sua perspectiva está em perigo real.


O “choro”, tão parecido com o choro real do bebé humano, tem por objectivo atrair algo desejado. Poderá ser emitido por uma gata em cio, para atrair machos, ou pelo próprio macho para atrair a fêmea. Ocorre também em situação familiar, quando o gato se sente sozinho e quer chamar o tutor ou outro animal para junto de si. É de intensidade alta e o gato parece estar em sofrimento, sem efectivamente o estar.


O “arrulhar” é um ruído curioso, em que o gato emite umas pequenas vibrações de baixa intensidade, acompanhadas pelo movimento dos bigodes ligeiramente para a frente e da dilatação e contracção alternadas da pupila. Representa um estado de completa concentração em algo muito interessante para o gato, como por exemplo uma presa.
Há raças e indivíduos que vocalizam mais que outros. A convivência com os humanos, apetrechou o gato com novas tonalidades, intensidades e nuances, que o tutor aprendeu a compreender e que o animal aprendeu a utilizar em seu próprio benefício.


Posturas Corporais


A “submissão “ tem pouca importância nesta espécie. Serve para impedir um ataque, quando a fuga não é possível. As orelhas posicionam-se junto à cabeça e o gato mantem-se agachado, encolhido, cauda por baixo do corpo, pupila dilatada, procurando discretamente, com subtis movimentos dos olhos, possíveis vias de fuga. Esta postura pode também visar o ser humano, quando tenta a abordagem a um gato pouco socializado, assustado ou desconhecido. Cuidado, porque na impossibilidade de fuga, que será a sua primeira opção, poderá atacar para se defender daquilo que considera um perigo real.


A “saudação” acontece quando o gato pretende aproximar-se de outro gato, animal ou ser humano. Caminha com confiança em direcção ao visado, com a cauda em posição vertical e dobrada na ponta. É uma comunicação de afeto e quando conseguem o contacto físico fazem-no com a cabeça ou o canto dos lábios, seguindo-se os ombros e depois o resto do corpo. A atitude pode ser repetida do outro lado do corpo. Ao mesmo tempo a cauda, em posição vertical, é esfregada na cabeça e no dorso do outro gato. Quando acariciado, um gato amigável responde empurrando a parte do corpo acariciada em direcção à mão do humano que o afaga.


O “rolar” de um lado para o outro, exibindo o abdómen, pode ser um convite à brincadeira, ou uma saudação. Nem sempre é um convite ao toque, uma vez que esta zona corporal é a mais protegida por ser a mais sensível. Portanto o gato pode reagir mal se a tentarmos tocar. Só quando está completamente relaxado, bem socializado e confortável com a presença do tutor, é que talvez permita que este lhe afague a barriga.


O “Halloween cat”, cuja postura é talvez a mais conhecida, popularizada pela festa pagã de origem norte americana, em que assume um arqueamento do corpo, com piloereção generalizada, e muitas vezes acompanhada do “bufar”. Ocorre, sobretudo em situações de surpresa assustadora, como por exemplo o surgimento súbito de uma ameaça no seu campo visual. Tem como objectivo parecer maior e mais intimidante, por forma a afastar a ameaça.


O “arqueamento” da cauda sobre as costas indica alto grau de excitação, normalmente relacionado com brincadeira ativa.


A cauda em posição de “U invertido” é mais comum em casos de perseguição lúdica, normalmente acompanhada de correria desenfreada. É comum dois gatos, do mesmo grupo social perseguiram-se alternadamente, para em seguida se envolverem em luta corpo a corpo, sem intenção ofensiva. Esta atitude ocorre sobretudo em gatinhos, mas também em gatos adultos aparentados, partilhando a mesma casa. Pode também ser dirigida a objectos em movimento.


“Movimentos rápidos da cauda” podem ter vários significados, mas normalmente transmitem algum tipo de conflito interior, alguma dúvida sobre o que fazer. Quando observa uma presa, o gato fica num grau de profunda concentração, muitas vezes emitindo sons semelhantes aos de “arrulhar” e só o movimento ritmado da pontinha da cauda denuncia a sua intenção. O movimento mais amplo e mais marcado, poderá querer dizer que o gato está prestes a reagir negativamente e a evitação do motivo do conflito será o próximo passo, muitas vezes acompanhada de uma sapatada e fuga. Portanto, se estamos a acariciar o gato e ele inicia este tipo de movimento de cauda, é, para nós sinal que devemos parar por aí a interacção. A piloereção da cauda está associada a posturas de ameaça. Em posição vertical e eriçada é indício de ameaça ofensiva moderada. No caso de ameaça defensiva a cauda eriçada dobra-se sobre o dorso. Esta postura também ocorre nas brincadeiras que envolvem muita excitação. Se estiver virada para baixo, em forma de U invertido, está associada com posturas intermediárias entre a ameaça ofensiva e a defensiva. A cauda entre as pernas acompanha sobretudo comportamentos lúdicos.



Expressões faciais, que envolvem olhos semicerrados, protusão da terceira pálpebra, ou ambos, estão relacionados com o desempenho de uma função orgânica natural, como alimentação, eliminação, higienização própria ou social e cópula. Dilatação de pupilas com orelhas direccionadas para a frente, quer dizer brincadeira. Movimento rápido da cabeça de um lado para o outro tem sido associado ao stresse agudo.


A “ameaça ofensiva” consiste no contacto visual directo com pupilas contraídas, bigodes virados para a frente e postura corporal ereta, acompanhada de piloereção.


Marcação

A marcação territorial é uma forma de comunicação mais permanente que as descritas anteriormente. Permite que o gato deixe informações visuais e olfactivas que permanecem muito tempo, após a sua partida. Fornece informações a respeito do individuo, da identidade sexual, do tempo que permaneceu no local e da fase do ciclo reprodutivo.


As “turras” são aquilo que vulgarmente chamamos, ao comportamento que o gato evidencia quando esfrega alguma parte do seu corpo em objectos, outro animal ou no próprio tutor. Os felídeos apresentam glândulas sebáceas que produzem secreções com determinados odores (as feromonas), sem significado olfactivo para nós, mas de extrema importância comunicativa para eles. Estas glândulas localizam-se ao redor da boca, no queixo, na zona localizada entre os olhos e ouvido, nas almofadinha plantares, na zona perianal e na base da cauda. Quando as “turras” são dirigidas a outro gato, sugere um relacionamento social. Em relação aos humanos, parece ser uma forma de saudação, uma forma de aceitação do tutor no seu grupo social. Fazem-no, também, em objectos novos no seu território. Começam por pressionar a zona do nariz, passando à face, da comissura labial à comissura lateral do olho. Muitas vezes este comportamento é acompanhado de um entreabrir do lábios (denominada reação de Flehmen), quando a emoção é intensa. Ocorre quando o gato quer analisar melhor um odor interessante, uma vez que possuem um órgão (vomeronasal) no interior da cavidade oral, que participa na inspeção olfativa de determinadas mensagens odoríferas. Quando acariciado, o gato também pode salivar e em seguida esfregar o canto da boca no individuo que o acaricia. A saliva pode ser uma forma de marcação olfactiva.


O “afiar as unhas” é um comportamento de marcação visual, em que o gato estende e retrai as unhas, alternadamente, em objectos verticais ou horizontais. Pode efectivamente servir para manter a integridade da unha, uma vez que solta as camadas exteriores danificadas, ficando mais afiada e saudável, mas também deixa um sinal visual, interpretável por outros gatos. Existem glândulas sudoríparas nas patas, que podem deixar um estímulo olfativo secundário. Este odor parece proporcionar segurança ao gato. Objectos novos podem ser marcados, mas também objectos antigos e os mais utilizados parecem ser os de maior importância para o animal. Normalmente afiam as unhas logo ao acordar, podendo corresponder a uma forma de alongamento. Também parece que os alvos preferidos são aqueles que se localizam em zona de maior invasão do território, como por exemplo, a sala de estar e os sofás, onde os tutores e as visitas permanecem sentados, deixando odores da sua zona genital. Portanto, não chega proporcionar ao seu gato um arranhador todo sofisticado, mas depois escondê-lo, por razões decorativas, na varanda ou na dispensa. Este arranhador deve estar localizado exactamente na zona social, ou no local que o gato escolheu para este fim.


A marcação com urina ou “spraying” é utilizada como forma de comunicação ou marcação pelo odor, especialmente em machos não castrados, mas qualquer outro gato, em determinadas circunstâncias, pode fazê-lo. A postura de marcação é típica, com o gato em pé, esticando os posteriores, movimento rápido da cauda em posição vertical e o jato de urina é expelido para trás. Este comportamento é exibido sobretudo em locais de passagem. Tem como objectivo condicionar a movimentação dos gatos em determinadas áreas, por forma, a que não haja encontros conflituosos. Normalmente espalham a urina para deixar o seu próprio odor e não para tapar o odor dos outros. Por isso os gatos (ao contrário dos cães) não marcam por cima das marcações de outros gatos. As fêmeas utilizam esta forma de marcação com menor frequência, mas esta aumenta quando estão em cio. Gatos castrados e fêmeas esterilizadas também o fazem, associado a ansiedade. Utiliza este recurso sempre que se sente desconfortável com o ambiente que o circunda, como acontece quando há punição, ausência do tutor, alteração de rotina ou no ambiente, demasiados gatos no mesmo espaço, agressão de outros gatos, competição, introdução de um novo animal, entre outros. No entanto, também pode ocorrer quando existe doença do aparelho urinário, mas na maior parte das vezes a eliminação assume a postura de agachamento e não em pé.

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