Dicas para prevenir, reconhecer e tratar as doenças orais dos gatos



Os gatos sofrem, frequentemente, de doenças dos dentes, da mandibula (espaço que assenta o dente) e do tecido mole da boca (que é a polpa, que se encontra no centro do dente e onde se situam os vasos sanguíneos e o nervo dentário. Muitas vezes os tutores não se apercebem que o animal está em sofrimento, porque estes conseguem esconder o desconforto, uma vez que continuam a comer e a beber normalmente.

Verifique se o seu gato tem uma boca saudável

Numa boca saudável a cor dos dentes varia entre o branco e o amarelado claro, apresentando-se íntegros, sem fracturas ou exposição do tecido mole do seu interior, um único dente em cada espaço dentário, sem acumulação de tártaro. A sua contagem deve perfazer os 26 em gatinhos até aos 4 meses, altura em que iniciam mudança de dentes, e 30 a partir dos 6 meses de idade. A gengiva deve ser rosada, sem acentuar a cor na transição com o dente ou apresentar sangramentos espontâneos. A saliva deve ser transparente, ligeiramente viscosa, sem odores desagradáveis. A língua deve apresentar-se, sem feridas ou depósitos fétidos. O hálito deve ser discreto, sem odores excessivos ou desagradáveis.

Esteja atento a sinais de desconforto

Desconfie se descurar o cuidado com a higiene pessoal, conduzindo a um mau estado da pelagem (se estiver saudável, o cuidado com o pelo é meticuloso e dispensará uma boa parte do dia no desempenho desta tarefa).
O mau hálito, salivação excessiva, saliva sanguinolenta, desconforto ao comer, sangramento oral, redução no apetite, perda de peso e deitar freneticamente as patas à boca, são mais alguns dos sintomas que devem condicionar uma rápida visita ao veterinário.

Esteja atento à fase de mudança de dentes do seu gatinho

É possível haver alguma inflamação das gengivas e um hálito menos agradável, na altura em que os dentes definitivos emergem, mas estas pequenas alterações não afectam a saúde do gatinho, o seu comportamento ou mesmo o seu apetite. Rapidamente se resolvem.

No entanto, pode acontecer que alguns dentes de leite não caiam, ficando a partilhar o espaço com o dente definitivo. O espaço exíguo, insuficiente para dois dentes, leva a sobreposição, predispondo à acumulação de detritos e o aparecimento de tártaro e placa dentária. Esta anomalia pode ocorrer em qualquer gato, mas é mais frequente nas raças braquicéfalas, como é o caso dos persas. Para proteger os dentes definitivos, os de leite que não caíram, deverão ser extraídos pelo veterinário, intervenção que será levada a cabo sob anestesia. O mesmo problema pode ocorrer quando nascem demasiado próximos ou sobrepostos, por falta de espaço ou pelo aparecimento de dentes supranumerários.
Irregularidades na forma, estrutura ou posição dos dentes também podem causar problemas, que levarão ao desenvolvimento de doença periodontal. O ideal será a visita ao veterinário, por volta dos 6 ou 7 meses de idade, para que este verifique se tudo correu bem durante este processo e se não será necessária nenhuma intervenção suplementar.

Higienize os dentes do seu gato

Uma boa prevenção passa pela higiene oral, ou seja, uma escovagem frequente e cuidada. Não é tarefa fácil, mas se for desempenhada com calma e o animal habituado desde cedo, não será um bicho-de-sete-cabeças. Os restos de alimentos acumulados favorecem a proliferação de bactérias e a formação da placa bacteriana, que pode ser removida com a escovagem, uma vez que é mole e pouco aderente. Não sendo retirada, mineraliza, formando o tártaro, depósito amarelado em volta dos dentes, que não é possível remover de forma manual. . A tendência para formar tártaro não é igual em todos os gatos, sendo mais acentuada em determinadas raças, sobretudo nas braquicéfalas, uma vez que a má oclusão dentária facilita a retenção de detritos. Mas as características individuais do animal, independentemente da raça a que pertence, determinam a probabilidade com que irá desenvolver doença oral.

Comece por utilizar simplesmente o dedo indicador, repetindo várias vezes e elogiando entre cada utilização. Premei-o com algo de que goste muito, sempre que o tolera. Deve sempre relacionar a escovagem com um momento prazeroso. Quando aceitar, sem receios, a utilização do dedo, comece a envolvê-lo numa gaze e repita o procedimento. Sempre que o gato se mostre desconfortável, pare e volte a tentar passado algum tempo. A fase seguinte será a utilização de uma escova macia, de tamanho apropriado. Com calma e paciência, será muito provável que consiga a colaboração do animal.

Forneça alimentos e aditivos que ajudem a manter uma boca saudável

O tipo de alimentação assume um papel determinante na saúde oral do gato. 
Ração seca, grãos estaladiços e esponjosos atuam como escova de dentes. Mas muitos gatos não mastigam bem a comida e outros utilizam, preferencialmente, um dos lados da boca. Assim sendo, a higienização nunca será homogénea. Suplementos alimentares, com substâncias enzimáticas na sua composição, de sabor agradável, são, geralmente bem tolerados pelo gato e dão uma preciosa ajuda. Podem ser utilizados como prémio e são comercializados sob a forma de pequenos biscoitos ou pasta nutritiva. 

Existem, também, sob a forma de aditivos, alguns desinfectantes que podem ser dissolvidos na água de bebida e que evitam a proliferação exagerada das bactérias presentes na boca. Mas não devem ter odor ou sabor, caso contrário o animal recusar-se-á a ingerir a mistura.

Consulte o veterinário

Para tratar é necessário diagnosticar e para fazer um diagnóstico correto e assertivo poderá ser necessário tranquilizar o gato, para aceder de uma forma mais eficaz à cavidade oral. Os procedimentos dependem do problema encontrado, variando de animal para animal. Podem incluir a reparação cirúrgica de lesões dos tecidos moles; controle de qualquer fator que predisponha à doença oral; remoção de placa ou tártaro, acima e abaixo da linha da gengiva; polir os dentes para prevenir a formação de placa; extração de dentes sempre que necessário; medicação para controlar a dor e a infeção durante todo o tempo que for necessária.

Reconheça a doença periodontal

A doença periodontal deve-se a inflamação e consequente enfraquecimento dos tecidos que suportam o dente, incluindo a gengiva, o ligamento periodontal e a própria mandibula. A formação de bolsas ao redor do dente e a reabsorção do osso, podem conduzir à perda do mesmo. Como causa principal temos a infecção bacteriana e a formação de placa dentária associada, potenciada por uma redução na limpeza natural dos dentes, por mau posicionamento, perda ou alterações na dieta. A inflamação da gengiva devido a trauma e a redução nas defesas naturais da boca (causada por deficiência imunitária geral, insuficiência renal ou hepática, diabetes ou infecções virais), são mais alguns dos fatores predisponente.
 A formação de tártaro é o passo seguinte e este favorece o depósito de mais placa, tornando-se num ciclo que levará à doença avançada, para a qual a extracção pode ser o único tratamento possível. Numa fase menos grave é possível a limpeza, sob anestesia geral, pelo veterinário, que procederá, também, ao polimento dos dentes, por forma a alisar a sua superfície e dificultar a aderência da placa bacteriana. É importante o controlo da dor, uma vez que é uma doença que causa desconforto e consequentemente a perda de qualidade de vida.

Identifique outras doenças orais que poderão afretar o seu gato

A gengivo-estomatite crónica felina é a segunda causa mais frequente de doença oral, logo a seguir à doença periodontal. Caracteriza-se por uma resposta inflamatória exuberante, que causa lesões ulcerativas muito dolorosas, na mucosa oral. Parece existir uma base genética que predispõe a esta doença, uma vez que algumas raças, como a siamesa ou a persa, são mais frequentemente afectadas. É uma doença grave, frustrante e desesperante para veterinários e tutores, não só pela severidade das lesões, mas também devido à frequência com que recidiva e à resistência aos tratamentos disponíveis. A boca está constantemente exposta a microrganismos, que estão, normalmente, em equilíbrio com as defesas imunológicas do gato. A ruptura neste equilíbrio provoca doença. Um sistema imunitário débil deixará o animal mais susceptível, exactamente porque provocará um desequilíbrio entre a defesa e o ataque. 

Mais uma vez, a existência de placa bacteriana e tártaro, favorecem os microrganismos patogénicos e uma boa higiene oral poderá dar o seu contributo para minimizar os efeitos devastadores desta doença.


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