Algumas dicas para combater a obesidade felina




O ideal será apostar na prevenção. Assim, o melhor será não o deixar engordar, porque depois de isto acontecer, terá a árdua tarefa de o fazer perder os quilos a mais. Salientamos que, por razões fisiológicas, o gato deve ter sempre comida à disposição, uma vez que deve ingerir muito pequenas quantidades de comida, várias vezes por dia. Se você está todo o dia fora, impossível será disponibilizar pequenas porções a intervalos regulares. Mas felizmente que existem alguns truques a que poderemos recorrer para ultrapassar a dificuldade que é manter um gato sedentário, no peso ideal:

1. Quando adopta um gato, deve adoptar logo dois. Sendo o gato um animal territorial, não gosta de partilhar o seu espaço, tantas vezes exíguo, com outros animais. Mas se forem irmãos, adotados em simultâneo, que se adaptem em parceria ao novo espaço, que partilhem descanso, brincadeiras e higiene, muito provavelmente serão grandes amigos. Havendo companhia, há mais distração e ocupação, assumindo a comida um papel secundário na rotina diária. O convívio forçado entre animais que não se entendem pode ser um problema gerador de stress e muitas vezes a forma de lidar com a ansiedade passa pela bulimia, com o inevitável aumento de peso.

2. Obrigue o seu gato a trabalhar para comer, colocando a alimentação seca dentro de um dispensador de comida. Estes objectos estão disponíveis nas lojas da especialidade e possibilitam o armazenamento de pequenas quantidades de ração, que irão sendo colocados à disposição do animal, grão a grão, conforme este movimente o dispensador. Existem sob muitas formas e feitios, desde cubos a cilindros, alguns com aromas apelativos, outros com acessórios acoplados que estimulam a brincadeira e a descoberta, outros, ainda, que necessitam da resolução de um problema de dificuldade controlada, para que disponibilizem um pequeno prémio alimentício. Mas também podem ser improvisados com objectos que normalmente temos em casa. A água de cozedura de carne ou peixe, desde que não seja condimentada, pode ser congelada em cubos e colocados à disposição do gato, que conseguirá momentos de diversão, perseguindo o saboroso, mas escorregadio, brinquedo, pela casa. O mesmo pode ser feito com comida húmida, resultando num interessante gelado para gato, apresentado sob a mesma forma de cubos ou colocada dentro de um destes dispensadores, próprios para esta textura alimentar. Em alternativa, podemos colocar a comida, todos os dias em sítios diferentes, ou mesmo espalhar pequenas porções por várias zonas da casa. Isto obriga o animal a ter que procurar, utilizando capacidades olfativas que lhe são inatas, resultando num maior dispêndio de energia, para além da estimulação cognitiva e do enriquecimento ambiental que este pequeno e simples truque proporciona.


3. Animais mais equilibrados e ocupados, recorrem menos há comida como passatempo ou distracção. É verdade que a maior parte dos tutores passam grande parte do dia fora. Mas podem apetrechar a casa com algumas peças de mobiliário pensadas e adaptadas à natureza e curiosidade naturais destes pequenos felinos, que adoram explorar, trepar e observar o mundo de cima. No comércio há “ginásios” para todos os gostos, de tamanhos, cores, texturas e preços variáveis. São objetos que exploram o espaço tridimensional, com plataformas e esconderijos elevados. Muitos têm brinquedos acoplados, coberturas macias e uma área abrasiva para afiar as unhas. Mas mesmo para os que têm pouco tempo, pouco dinheiro, pouca imaginação e pouca paciência para trabalhos manuais, há alternativas. As caixas de cartão são excelentes para proporcionar momentos de brincadeira desenfreada, descanso ou esconderijo. E quando estiverem estragadas… deitam-se fora e arranjam-se novas. Podem ser forradas com mantas macias ou tecidos decorativos, mas uma simples caixa, só por si, é suficientemente interessante para provocar acessos de euforia exploratória e destrutiva, havendo aparas de cartão a voar por todo o lado e a serem freneticamente caçadas.


4. Sempre que possível incentive o gato a brincar. Reserve períodos curtos, ao longo do dia, para interagir com ele, estimulando aquilo que tem de mais felino, que é o instinto da caça. Atire brinquedos com som, papéis de rebuçado, bolinhas feitas com papel metalizado, agite uma “cana de pesca” com penas na ponta, esconda pequenas fantasias de presas e faça-as aparecer e desaparecer subitamente. Mas nunca permita que o gato brinque com as suas mãos. A pele humana é sensível e fica facilmente ferida com os dentes aguçados de um carnívoro. Sempre que as tente mordiscar, pare imediatamente a brincadeira ou ofereça um brinquedo, em alternativa. Também não adianta estar uma semana sem brincar com o gato e depois aproveitar o fim de semana para brincar, durante uma hora ou mais. Este perde rapidamente o interesse e a interacção deixa de ser produtiva. O ideal são períodos pequenos, várias vezes por dia. O tempo de duração de cada período é variável e depende da personalidade do gato e do tipo de brinquedo. Este dirá que está farto, não correspondendo ao estímulo ou abandonando, simplesmente, o local. Também a novidade é estimulante. Assim, deverá ter três ou quatro conjuntos de brinquedos, em rotação. Numa base regular, que poderá ser de três em três dias, ou semanalmente, um conjunto guardado troca de lugar com o disponível.



5. Dê ao seu gato uma alimentação de qualidade, adaptada ao estilo de vida e condição física. Existem, no mercado, muitas marcas e sabores, de composição e preços variáveis. Deverá escolher a que corresponde às necessidades calóricas e proteicas do animal que tem em casa e com a maior qualidade possível, dentro das suas possibilidades económicas. Um gatinho bebé deverá comer ração com um maior teor calórico, proteico, de cálcio e vitaminas. Se estiver esterilizado, deverá ser-lhe disponibilizada alimentação menos calórica. Animais que não saem à rua, obviamente, despendem menos energia do que aqueles que se passeiam pelas redondezas. Seniores precisam de alimentação com fonte proteica de qualidade, uma vez que o seu teor deve ser reduzido, para além de suplementada com proteção articular e estimulação cognitiva. Se já estiver com excesso de peso, terá que recorrer às variedades Light, ou mesmo dietas específicas para perda de peso, sendo a quantidade disponibilizada rigorosamente controlada e repartida em pequenas refeições, oferecidas várias vezes por dia. Para quem trabalha e passa o dia fora, há a hipótese de deixar a dose diária repartida por pequenas porções, escondidas em locais diferentes todos os dias, ou disponibilizada nos dispensadores de comida que referi anteriormente. Cuidado com os extras! Muitas vezes são estes os responsáveis pelo aumento indesejado de peso. Se os utilizar em treino ou simplesmente para premiar um comportamento desejado, a porção de ração deverá ser proporcionalmente reduzida.

6. Se viver em vivenda, anexo ou andar térreo e se a zona em que habita não for muito movimentada em termos de tráfego, poderá questionar-se se não seria preferível deixar o gato sair à rua. Na sua maioria, ficariam extremamente contentes com essa possibilidade, apesar de haver alguns casos em que o receio do desconhecido poderá condicionar a exploração do exterior. Um gato que caça, trepa árvores, inspecciona, marca e delimita o seu território, comunica com outros seres vivos, é feliz, na sua verdadeira essência felina. Sem dúvida que corre mais riscos, mas se estes forem razoáveis, o valor da liberdade de expressar a sua natureza, é inestimável. E, com toda a certeza, compensa o risco que possa correr. Logicamente se vive ao lado de uma autoestrada ou se o seu vizinho tem um cão que não aceita gatos e as saídas de casa passam inevitavelmente pela invasão do seu espaço, os riscos são demasiados e deixar o gato sair será condená-lo a uma morte certa e prematura. Mas se essa possibilidade for efectivamente viável, então o seu pequeno felino terá uma vida preenchida e será muito menos provável tornar-se obeso. Não adianta tentar compensar esta impossibilidade levando-o a passear à trela. Trelas não são para gatos. Gosta, sem dúvida, de explorar o exterior, mas por sua conta e risco e no seu próprio ritmo. Força-lo a estar completamente exposto, sem possibilidade de fuga, não dá bom resultado. Entrará facilmente em pânico e poderá magoar alguém ou sair seriamente magoado.



7. Treine o seu gato… sim é possível. É um animal inteligente, cognitivamente complexo, e que precisa de ser estimulado para viver feliz. Por ser muito discreto nas suas manifestações de sentimentos, simplificamos erradamente, as suas necessidades, resumindo-as à alimentação, eliminação e conforto. Mas um gato é muito mais que isso. Possui uma estrutura neurológica complexa que faz parte de um todo, desde uma anatomia formidável que lhe permite sobreviver em situações extremas (não é por acaso que se diz que o gato tem 7 vidas), a uma cognição elaborada e que precisa de ser correctamente estimulada. Só uma mente activa pode resultar num animal saudável. Portanto, se o gato vive confinado a um espaço onde pouco ou nada acontece, o marasmo cerebral transforma-o num potencial depressivo que recorre ao que tem à sua disposição para combater o tédio. Assim, ou dormem em demasia, ou se dedicam a um “grooming” excessivo, ou comem mais do que precisam. O treino, mais do que uma forma de o tornar num “animal de circo”, torna-se num ginásio mental, em que exercita as suas capacidades cognitivas por forma a torná-las mais hábeis. Como resultado, tem uma vida mais activa e a alimentação assume um papel menos importante. Pode fazer um treino básico de obediência, como o “senta”, “deita”, “dá a pata”, “ursinho”, “rebola”, “morto” Mas quando estes comandos estiverem aprendidos pode aventurar-se por um treino mais elaborado, como ensinar o gato a abrir portas, apagar/acender a luz, ir buscar objetos e muito mais. Dê largas à imaginação e adapte o tipo de treino às características individuais do seu gato. Este tipo de actividade, não só melhora a qualidade de vida do animal, mas ainda estreita laços afectivos entre este e o seu tutor. No geral, as sessões devem ser curtas e com a motivação adequada, que pode variar de aluno para aluno. Para uns, o ideal será um prémio comestível, para outros um carinho e para outros, ainda, uma brincadeira. Mas os benefícios do treino são muitos e são um recurso importantíssimo no enriquecimento ambiental dos nossos gatos urbanos.

8. Reduza o stress ao mínimo possível. Está provado que os gatos sofrem de stress, podendo esta condição afectar várias funções e órgãos. E “stress” nem sempre quer dizer: “dia completamente ocupado, com minutos contados, brigas com o chefe, crianças barulhentas e pouco tempo para descansar”. Quer dizer também: “ absolutamente nada de interessante para fazer, ninguém me dá atenção, dias vazios e sempre iguais”. As suas principais consequências são, sem dúvida, os distúrbios alimentares.
Estilo de vida moderno, alojamento em pequenos apartamentos, dias inteiros fora de casa, em trabalho, ou actividades lúdicas, levam os humanos a ponderar seriamente antes de adquirirem um animal de estimação. Um gato torna-se, muitas vezes a opção ideal, uma vez que pode satisfazer todas as suas necessidades básicas no interior, sem necessidade de passeios de madrugada ou pela noite dentro, em dias frios ou chuvosos, quando só apetece relaxar e não voltar a sair. E, sem dúvida, revela-se uma excelente companhia, afectuoso, discreto, silencioso, “zen”, pouco exigente, algo independente. Mas não nos podemos deixar enganar pela sua descrição. A partir do momento em que tomamos a decisão de adotar um gato, tornam-nos responsáveis pelo seu bem-estar físico e mental. É absoluta responsabilidade do tutor tudo fazer para que este viva de acordo com a sua natureza e para que possa expressar todos os comportamentos que lhe são característicos, acrescentado algumas novidades que ajudem a colmatar as falhas que não podem ser preenchidas neste estilo de vida citadino.


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